é. o vídeo tá pronto. tá pronto desde início de Março. a vida me fez empurrar ele. evitar de rever, evitar de mexer. algo como por fim ao fim. algo como enclausurar o espaço tempo em seu devido lugar. fechar essa janela das milhares e milhares que permanecem abertas. cada dia tenho mais certeza que fotografar é um exercício de sobrevivência, talvez nossa mais bem-sucedida experiência da imortalidade. um ponto central conectando todos os milhares de capilares que o instante poderia ter capturado. também é, por si, uma negociação com a perda, como diria Carlos Ebert. o que se petrifica no frame é o acaso frente a imensidão de recortes, e em parte sua importância o é por desfazer o nó com todas as outras possibilidades. se eternizar na ausência. obturador travou o ar gelado do Itatiaia, onde há 60 anos atrás transitou pela última vez. um microcosmos se abriu, uma espiral temporal. foi última vez que vi ele. entre os arbustos baixos da Mantiqueira. entre pedras e rochões. o recorte tingiu o céu, acendeu uma nuvem por trás das montanhas. na última subida, no último empenho, descansei. desisti, na verdade. a vida segue seu curso, a gente no pêndulo da existência, essa loucura de brincar com a morte, registrando o que se perde na insalubre mania de enganar o destino e a vida, que por sua vez insiste em nos fazer desaparecer. *imagens filmadas no carnaval de 2024, em Itamonte, Minas Gerais. alguns vazamentos de luz separam a câmera de 1960 até hoje, mas o que vale é o que falta. revelação e impressão em 120mm feitas pelo @vaptvupt.